sábado, 24 de setembro de 2011

Lefort X A.Miller

Claude Lefort

"A democracia aceita a lacuna entre o simbólico (o lugar vazio do poder) e o real (o agente que ocupa esse lugar), e postula que nenhum agente empírico se encaixa "naturalmente"no lugar vazio do poder. Os outros sistemas são incompletos, têm de cair em acomodações, em solavancos ocasionais, para funcionar; a democracia eleva a incompletude a um princípio, institucionaliza o solavanco regular sob o disfarce de eleição... a democracia transforma a própria imperfeição em conceito.
Dizem que, uma vez que haja o espaço vazio, todos, caso respeitem as leis, podem trazer suas tradições e valores... Entretanto, o que sabemos é que, efetivamente, quanto mais a democracia é vazia, mais é um deserto de gozo e, correlativamente, mais o gozo se condensa em certos elementos. [...] quanto mais o significante é "esvaziado", como dizem alguns, mais o significante é purificado, mais se impõe na forma pura da lei, da democracia igualitária, da globalização de mercado, [...] mais a paixão aumenta, mais o ódio se intensifica, os fundamentalismos se multiplicam, a destruição se amlia, os massacres sem precedentes acontecem e catástrofes inauditas ocorrem."