sexta-feira, 17 de agosto de 2007

a lágrima de um homem vai cair

Sentado com amigos na beira do mar, vendo o horizonte imperar no mais longe lugar. Mais um dia nasce...
Andando numa estrada de terra com um amigo e mais dois colegas aventureiros.
Vou sozinho, de chinelo e mochila, preparando meu corpo para mais um mergulho.
Mais uma experiência capaz de ser o fim. Legítima de um apagar as luzes.
Para ter o ritmo, para ser a estrada de terra que ainda tem nome de caminho...
Um exercício. desafio.
Fincar a bandeira da transformação no alto de uma cruz vazia de significados e múltipla em significantes...
O gado pasta grama na beira do mar. rumina, espuma e dialoga com violões e trovoadas.
Sinto frio agasalhado, vejo o rio desaparecer.
É bom se desligar. É reestruturante se concentrar num momento que vale toda uma vida.
Ver uma história ser queimada. Um caminho inteiro ser trilhado em apenas sessenta segundos. Nada mais. Naquele desvalorizado e discreto "um minutinho"...
Pinto sem método a contradição que me equilibra e me da forças pra encontrar um método. O meu método...
O descompromisso às vezes me ensina a valorizar uma palavra, um ato de confiança. A ausência me ensina o compromisso. Me dá calma, me encanta pelas beiradas da alma...

É quando se tem aquele belo entardecer...


Fazer da despedida um momento mais pulsante. A ida como forma de reinício. A morte como forma de produção de vida. Mais vida. Mais vida, vida...
Defesa como modo de imposição. Ataque desprovido da disposição.
Lá do alto faço companhia a intensos e múltiplos gostos, que caindo juntos serão um só.
O grão que vira pão. A areia compõe a praia. A pedra o rochedo. A lágrima se descobre em enchurradas.
Vejo lá do alto, vivo cada pingo, como cada grão...
cada gota, cada lágrima. Vivo com a densidade da queda. A potência visceral da transformação incansável. Mutável. Unido. Forte. Duro. /intacto/. Imutável. o céu é o limite. Risco. Solidão.
Denso acaricio cada momento. Cada um que são muitos, cada pouco que é muito, cada todo que não é nada se é repetido sem sentimento...
Sou vida aceitando o denso, produzindo intensidades. Dou vida ao exercício da força, à importância da dor...
à recompensa do amor...
Quero dor e insensibilidade. Pulsação e frieza. Quero tudo pra aí sim poder escolher o pincel que irei usar, quais cores se ligam aos métodos vitoriosos. Como será a tela? com qual humor pintarei?

Somente conhecendo ruas e quartos, tropeços e colos, encontros e desacordos, homens e humanidade, bebida e comida, cachorro e gato, mar e montanha, barco e avião, terra e asfalto, abandono e afeto, amor e desilusão... Há de viver de peito aberto, disposto a tudo, se livrando de prisões sentimentais e ideológicas.
Viver oq vier... com a calma de um auto didata, com co-existência, pluriconvivência.
Sento-me na beirada de minha cama. Parado, com sono, sem nada pra te oferecer. Incapaz de te provar aquilo que esperas de mim... Mas vivo... isso tem q bastar!!!
Tenho um guia que me aconselha andar devagar. Caminhar com calma... na certeza...
Receita que eu comece a digerir essa minha densidade.
Me oferecer a quem saberá me guardar. Me entregar ao que quer e sabe me proteger.
Me jogar no que me segura, desmoronar no que me sustenta...
Tudo simplesmente por saber o valor do colo... Querer carinho constante, o amor externo. Sei que momentos são únicos, as potências possuem validade, as paixões se não alimentadas morrem desidratadas, mais feias do que vidas sem paixão...
Me encorajo acreditando no externo, buscando qualquer coisa no infinito, me apaixonando pelos múltiplos e lineares amores.
O que posso fazer se não desisto de querer mais?
Aceito... aceito sim... Me calo quando sou convencido, mas queira você saber que eu me calo mais ainda quando estou discordando. É que a pedagogia do silêncio... deixa pra lá...
Sem a dualidade que limita... e muito... um solitário e único pássaro canta lá fora. Deve estar querendo dizer algo. Pode estar vivendo uma catarse.
Me chama atenção, se mostra presente o fiel sinal. O persistente conselho, a violenta bronca, o doce abraço. Está intervindo. Se impõe e participa. Compõe a eqüação, penetra o quadro...

02/07/06